Pensações

Pensações

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A natureza interna é uma força atômica

 Seduzir é bom. Não. Seduzir é o próprio amor próprio sendo verbo. 

Ela já não colocava seu véu inebriante para dançar no vento que assopra em alguém. No seu ensaio de conduta impecável, ela não se permitia mais brincar com sua arte certeira de causar desejo em outrem. 

Já estava tudo definido e sua condição de rigidez se tornara irrevogável. 

Mas a natureza interna é uma força atômica. Ela reprimiu, botou panos quentes, cortou o cabelo, guardou aquela dança tão natural de seu corpo num baú lacrado. 

Mas essa força, que de tão sedada adormecera por algum tempo, acordou. Porque é da natureza da essência ser desperta, se mostrar, ser por ser o que é de verdade. 

Ela, que voltara a olhar o próprio corpo, mesmo não sendo o de vinte anos atrás, entendeu uma beleza que nenhuma juventude a proporcionou. 

E, assim, se permitiu. Permitiu-se ser linda de dentro pra fora. Entendeu que seduzir pode ser uma brincadeira e, não necessariamente, algo que tenha que ter um fim definido.

Ela ainda está se experimentando, se reconhecendo como uma linda mulher que exala atração, pois há algum tempo deixara de perceber os olhares admirados e desejosos por onde passava.

Com um sentimento medido em Richter, ela organiza todas as suas escalas, e voa com os pés no chão. 


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Minha história, meu parto



Certa vez uma integrante de um grupo de mulheres defensoras do parto natural humanizado do qual fazia parte postou uma foto desta, típica da família pós cesárea, e escreveu “nojinho dessas fotos”. À época fiquei incomodada com o post, por vários motivos, mas não me manifestei porque já havia visto brigas e trocas de grosserias homéricas entre as integrantes desse grupo. Não seria eu que daria motivo para mais uma.

Era por volta de 2013 e eu também vazia parte das defensoras do parto natural humanizado e repetia o mesmo discurso, com os mesmos argumentos repetidos por todas, em todos os lugares, em todas as rodas, em todos os posts.

Cheguei a fazer um curso de doula e me envolvi muito com a causa. Minha visão era unilateral e não conseguia enxergar a gestante no contexto e ancestralidade de cada uma. Existia uma única alternativa para mim: mulheres saudáveis fisicamente eram fracas se não parissem seus filhos, independente do preço que custasse.

Apesar do “nojinho” de uma ativista aplaudida por tantas outras, venho aqui estampar com orgulho a foto da minha família após meu parto cesárea agendado. Esse foi o dia mais feliz da minha vida, em harmonia com meu marido, com meu filho a termo, dentro das minhas condições psicológicas no contexto.

Eu sempre sonhei com um parto natural humanizado. Ao escolher o obstetra, escolhi o com o menor número de cesáreas dentro da instituição na qual tinha condições de parir meu filho, na qual tenho plano de saúde.

Trabalhei minha cabeça e meu corpo para o parto com o qual sonhei toda a vida, mas como a maternidade é, sobretudo, perder o controle, com a proximidade das semanas finais da gravidez desenvolvi crises de pânico relativas ao medo de que algo pudesse dar errado no parto, medo do incerto (o parto natural chega a qualquer hora, em qualquer lugar, não tem tempo previsto de duração e é uma entrega que eu não estava preparada para realizar).

O tal obstetra “humanizado” me deixava insegura e mais nervosa a cada consulta. Não me atendia, não respondia mensagens e me deixava no vácuo.

Troquei de obstetra. Ela tem fama de cesarista, fui criticada por isso, mas logo na primeira consulta me senti acolhida, respeitada, bem orientada e saí do consultório feliz – muito diferente dos términos das consultas com o tal obstetra humanizado.

Com 38 semanas meu filho pesava 4kg. Um parto natural é super possível nessas condições, mas convenhamos, ele era um bebê macrossômico (acima do peso normal), ainda engordaria algumas gramas até o parto e é inegável que seria um trabalho de parto muito provavelmente demorado e extremamente sofrido. Ele era muito grande!

Hoje eu entendo que existem situações e o contexto em que estão inseridas. Uma análise unilateral é burra, neurótica e, muitas vezes extremista.

Após o agendamento da cesárea (que tem data para acontecer, tempo de duração, e um inegável melhor controle da situação), as crises de pânico foram diminuindo até cessarem.

Eu sou uma mãe de parto cesárea com muito orgulho!

À medica “cesarista” que realizou meu parto, toda minha gratidão, meu respeito, minha admiração. Minha gratidão aos seus longos anos de banco de faculdade, à todos os partos que  realizou antes do meu e a prepararam melhor para aquele dia mágico no qual ela trouxe meu filho ao mundo.

Não guardo a menor dúvida de que fiz a escolha certa para meu momento de vida. Meus dias têm sido doces e harmônicos ao lado do meu esposo que participou e dividiu tudo comigo e ao lado do meu filho que nasceu muito saudável, com Apgar 9 e chorando alto a plenos pulmões.

A lição que fica: esqueça a experiência do outro. Foque nas suas necessidades e corra de todo e qualquer extremismo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Minha experiência com o DETOX (o verdadeiro detox)



Para que serve o processo de detoxificar o organismo, como fazer um detox e os mitos acerca da palavra que virou suco, comida e até estilo de vida.

Muito, pára muito além dos sucos verdes tão difundidos atualmente, o processo de detoxificar o organismo é um conjunto de atitudes diárias que ajudarão seu fígado a eliminar as toxinas presentes em quase tudo a que estamos expostos no dia-a-dia. Naturalmente, e principalmente durante o sono, nosso corpo monta uma força tarefa para filtrar e, posteriormente, eliminar, todas as substâncias – hoje já nomeadas pela OMS como ´disruptores endócrinos´ - que não nos serão úteis e, mais ainda, que nos farão mal. Nosso fígado é o protagonista desse movimento e, por séculos e séculos, executou muito bem sua função. Mas nos dias atuais, nossos hábitos (dos quais falaremos mais à frente), promovem um verdadeiro desgaste a esse órgão, que precisa trabalhar muito mais para dar conta dessa “faxina”. O verdadeiro detox entra como um grato coadjuvante nesse processo, dando uma força (e que força!) em toda estrutura de limpeza do organismo.

O meu detox
Com acompanhamento de uma nutricionista, recebi a recomendação de realizar dois ou três dias de detox para engrenarmos uma dieta com objetivo de queimar gordura e aumentar massa magra (músculos). Quando li o protocolo bateu aquela insegurança: será que conseguiria? Parecia-me uma quantidade pequena demais de comida e isso não me soou bem. Mas decidi enfrentar o petit menu (que vou passar aqui para vocês). Com força de vontade e disposição, me organizei comprando os ingredientes dos sucos e das sopas funcionais que me alimentariam nos próximos três dias e, adivinhem: uma balança! Mas, não, caro leitor, a balança não era para me pesar, e sim para pesar os alimentos. Deu pra sentir o drama?

Passado o surto, prontifiquei-me a realizar o detox no final de semana para que nenhum compromisso semanal pudesse ser comprometido. Acordei sábado bem cedo e preparei o primeiro suco.
Na batida pesa inhame daqui, lava couve de lá, diminui a pitada do sal por favor, passei o dia muito bem, obrigada! No final do dia estava mais relaxada. Não havia passado fome e seguira à risca todas as recomendações da nutri. Mas, no domingo já foi diferente. Acordei com uma certa fraqueza. Não caminhei com tanto ânimo para a cozinha.

Uma respirada funda para acalmar a alma (ou o estômago) e me mantive firme no propósito. E desce o suco!

Mas não teve jeito. Nada que acontecesse me alegrava. Engatei uma maratona de filmes para ver se sublimava a vontade de comer, o que também não foi lá grandes coisas e terminei aquele domingo no maior mal humor do mundo, triste e certa de que tinha chegado em meu limite. Não seguiria no terceiro dia.


O mito do Detox
Como disse lá em cima, detoxificar o organismo não é a mera ingestão de sucos verdes e funcionais. Eles ajudam muito no processo, pois são ricos em vitaminas, minerais e nutrientes que vão dar aquela força ao fígado, mas fazer uma dieta detox e acumular hábitos que diminuam a absorção dos chamados disruptores endócrinos é bem mais complexo.
Nos meus estudos entedi que existe o detox pontual, que dura no mínimo dois dias, e os hábitos diários que o farão diminuir a ingestão e contato com as substâncias que intoxicam nosso organismo. Portanto, os sucos e as comidinhas que levam o nome de detox ajudam no processo, mas não são o processo. Entende?

Como fazer
Em linhas gerais, qualquer pessoa que estiver gozando de boa saúde, não estiver grávida, em processo de quimioterapia ou com alguma síndrome metabólica pode fazer o que chamaremos de detox pontual – dias seguindo toda uma dieta para detoxificar – em adotar como estilo de vida hábitos como:
- Trocar o plástico dos utensílios de cozinha pelo vidro;
- Uso de cosméticos e produtos de higiene sem parabenos;
- Diminuir o uso do microondas;
- Substituir materiais de limpeza por produtos como vinagre e bicarbonato de sódio;
- Beber pelo menos dois litros e meio de água por dia;
- Não usar enlatados;
- Comer comida de verdade;
 - Manter um bom funcionamento do intestino.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Uma eleição marcada pela rejeição


Contra quem você vai votar? Inusitadamente essa era a pergunta a ser feita na contra face da
habitual “em quem você vai votar?”.

Os números explicam o porquê.

No último domingo, mais de 117 milhões de brasileiros saíram às urnas para votar após uma
disputa eleitoral digna de roteiro cinematográfico. Com direito a candidatura de um presidiário
(que não durou, mas sua sombra – ou alma – permaneceu candidata), tentativa de homicídio
de presidenciável, redes sociais num turbilhão de golpes e contra golpes, textão, xingamentos
e fake news, uma hashtag que ganhou o mundo, propagandas políticas que ensinavam
didaticamente em quem votar para não eleger esse ou aquele candidato.

 Ah! E houve
passeatas. Claro, política! Mas, nessas eleições cheias de novidades, surgiram as passeatas
contra fulano, em dissonância com a prática das bandeiradas e carreatas cheias de apoiadores.
No final das contas, construímos um cenário de menos apoio e mais rejeição, menos propostas
e mais desconstrução. Nossos olhos não estavam voltados apenas para em quem votar, mas
também para quem faria frente de vitória contra quem não queríamos, de forma alguma, no
posto máximo da nação.

E assim, com ticket de passagem direta para o segundo turno, estão, pasmem, os dois
candidatos com maior nível de rejeição pelo eleitorado, de acordo com pesquisa Ibope
(06/07/2018). Jair Bolsonaro do PSL com 46,03% e Fernando Haddad com 29,28%.
É o segundo turno da rejeição.

No primeiro turno, um em cada cinco brasileiros aptos a votar não compareceram às suas
seções. Já entre os que votaram, 8,79% foram de nulos ou brancos. E os votos registrados nas
urnas não fazem valer a máxima da democracia, cujo voto é a garantia máxima do poder de
escolha de um povo. Cujo voto elege, elenca, destaca e, não tem a serventia, de tirar do páreo
o que parece insuportável.

Em pesquisa publicada nesta tarde, o Datafolha aponta Jair Bolsonaro com 54% das intenções
de votos e Fernando Haddad Com 46%.
É uma luta entre a extrema direita capitaneada pelo candidato do PSL e o maior representante
da esquerda, o PT.

Ao que parece. nossas opções para o próximo dia 28 de outubro, dia do segundo turno das
eleições para presidente, estão entre o amor e ódio. Entre um candidato que propõe
mudanças que, de tão radicais, teríamos que procurar outro nome para o país do carnaval e
um senhor que, de tão arraigado ao passado, vendeu o corpo para uma alma das antigas.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Você não é eternamente responsável pelo que cativas

"Você é eternamente responsável pelo que cativas." - O Pequeno Príncipe

Essa máxima de Antoine Saint-Exupéry é repetida em diversas ocasiões com o intuito de expressar a importância que devemos dar às pessoas que passam pela nossa vida. Mas ela me soa um tanto escravagista. Tudo bem, o cara mandou bem em diversas citações do referido clássico, mas pra essa aí eu torço a boca.

Partilhamos em uma sociedade que nos solicita a simpatia, o bom trato com o próximo, a educação como princípio de relações (bom, pelo menos assim entendo) e, naturalmente, vamos conquistando pessoas, colegas e amigos (para resumir) em nossas trocas. 

Aí, numa terça-feira a tarde, você é apresentado a alguém que não lhe causa simpatia alguma, mas a recíproca não é verdadeira.

Então, por ter sido gentil, atraído a simpatia alheia, cativado alguém, até mesmo sem querer, você será "eternamente responsável" por essa pessoa? Como se, a partir daquele momento, você terá que prestar atenção em toda sua conversa, atender ao telefone mesmo sem querer, receber em sua casa, responder ao whatsapp e sei lá mais quantas invasões disfarçadas e, ainda, eternamente?

Senhor digníssimo Antoine Saint-Exupéry, cujo livro li várias vezes e admiro, eu não sou responsável por tudo que cativo, nem hoje, muito menos eternamente. Caso contrário, teria que chamar para o café da tarde todos os trabalhadores da obra aqui do lado.

Não sou obrigada!