Certa vez uma integrante de um grupo de mulheres defensoras
do parto natural humanizado do qual fazia parte postou uma foto desta, típica
da família pós cesárea, e escreveu “nojinho dessas fotos”. À época fiquei
incomodada com o post, por vários motivos, mas não me manifestei porque já
havia visto brigas e trocas de grosserias homéricas entre as integrantes desse
grupo. Não seria eu que daria motivo para mais uma.
Era por volta de 2013 e eu também vazia parte das defensoras
do parto natural humanizado e repetia o mesmo discurso, com os mesmos
argumentos repetidos por todas, em todos os lugares, em todas as rodas, em
todos os posts.
Cheguei a fazer um curso de doula e me envolvi muito com a
causa. Minha visão era unilateral e não conseguia enxergar a gestante no
contexto e ancestralidade de cada uma. Existia uma única alternativa para mim:
mulheres saudáveis fisicamente eram fracas se não parissem seus filhos,
independente do preço que custasse.
Apesar do “nojinho” de uma ativista aplaudida por tantas
outras, venho aqui estampar com orgulho a foto da minha família após meu parto
cesárea agendado. Esse foi o dia mais feliz da minha vida, em harmonia com meu
marido, com meu filho a termo, dentro das minhas condições psicológicas no
contexto.
Eu sempre sonhei com um parto natural humanizado. Ao
escolher o obstetra, escolhi o com o menor número de cesáreas dentro da instituição
na qual tinha condições de parir meu filho, na qual tenho plano de saúde.
Trabalhei minha cabeça e meu corpo para o parto com o qual
sonhei toda a vida, mas como a maternidade é, sobretudo, perder o controle, com
a proximidade das semanas finais da gravidez desenvolvi crises de pânico
relativas ao medo de que algo pudesse dar errado no parto, medo do incerto (o
parto natural chega a qualquer hora, em qualquer lugar, não tem tempo previsto
de duração e é uma entrega que eu não estava preparada para realizar).
O tal obstetra “humanizado” me deixava insegura e mais
nervosa a cada consulta. Não me atendia, não respondia mensagens e me deixava
no vácuo.
Troquei de obstetra. Ela tem fama de cesarista, fui
criticada por isso, mas logo na primeira consulta me senti acolhida,
respeitada, bem orientada e saí do consultório feliz – muito diferente dos
términos das consultas com o tal obstetra humanizado.
Com 38 semanas meu filho pesava 4kg. Um parto natural é
super possível nessas condições, mas convenhamos, ele era um bebê macrossômico
(acima do peso normal), ainda engordaria algumas gramas até o parto e é
inegável que seria um trabalho de parto muito provavelmente demorado e
extremamente sofrido. Ele era muito grande!
Hoje eu entendo que existem situações e o contexto em que
estão inseridas. Uma análise unilateral é burra, neurótica e, muitas vezes
extremista.
Após o agendamento da cesárea (que tem data para acontecer, tempo
de duração, e um inegável melhor controle da situação), as crises de pânico
foram diminuindo até cessarem.
Eu sou uma mãe de parto cesárea com muito orgulho!
À medica “cesarista” que realizou meu parto, toda minha
gratidão, meu respeito, minha admiração. Minha gratidão aos seus longos anos de
banco de faculdade, à todos os partos que realizou antes do meu e a prepararam melhor
para aquele dia mágico no qual ela trouxe meu filho ao mundo.
Não guardo a menor dúvida de que fiz a escolha certa para
meu momento de vida. Meus dias têm sido doces e harmônicos ao lado do meu
esposo que participou e dividiu tudo comigo e ao lado do meu filho que nasceu
muito saudável, com Apgar 9 e chorando alto a plenos pulmões.
A lição que fica: esqueça a experiência do outro. Foque nas
suas necessidades e corra de todo e qualquer extremismo.
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