Andando sozinha pela rua
Eu me pergunto
O que há de errado comigo?
Nasci em uma família de classe média
De parto natural
Um bebê esperado
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Estudei em boas escolas
Não sofri abusos
Foi tudo tão normal
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Não sou santa nem puta
Professo minha fé em mosaicos
Eu sou crer pra ver
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Não sou feia ao ponto de ser rejeitada
Nem tão linda ao ponto de ficar abitolada
Idealizo meu futuro
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Espero o carnaval chegar
Na certeza de que ele vai acabar
Espero.....
Ouço Hendrix, The Doors e Black Sabbath
Ouço samba
E não peço mais para o Raul tocar
Então, o que há de errado comigo?
Andando sozinha pela rua
Eu me pergunto
O que há de errado comigo
Sozinha pela rua
O que há de errado comigo?
Andando sozinha pela rua
Visitando lembranças
Me curei do corpo
E minha alma continua mutilada
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Me tornei moça e mulher no tempo certo
Gosto de meninos que procuram prazer
Juntos, o prazer
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Cometi minhas poucas justiças
E as injustiças estão no porão
Jurei só por jurar
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Prefiro os finais infelizes
Sou vilã
Meu escudo me protege
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Desdenhei de mim mesma
Me autosabotei
Continuei em frente
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Quebrei regras
Criei as minhas
Sigo a maioria
Então, me pergunto
O que há de errado comigo?
Andando sozinha pela rua
Eu me pergunto
O que há de errado comigo
Sozinha pela rua
O que há de errado?
Sozinha pela rua
O que há de errado?
Sozinha pela rua
O que há de errado?
Esse blog é uma tentativa de não usar Prozac. Escrever é uma doença incurável. Mas, com certeza, uma das mais belas doenças.
Pensações
terça-feira, 25 de maio de 2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
A grama do vizinho
Numa dessas conversas filosóficas entre eu e minha irmã Pâmela, tomando o café das cinco (café com leite, litros, várias xícaras) aqui em casa comecei a lamuriar e falar que fulana conseguiu um ótimo emprego, iria ganhar muito bem, já estava comprando seu carro...lamuriei de uma colega que eu admirava por ser batalhadora, trabalhar e fazer faculdade (nunca consegui fazer isso), o pai morreu e ela continuou equilibrada dando força à mãe. Falei de outra colega que é super tranqüila, não fica nessa urgência de viver que eu tenho, sair, conhecer gente, dar a volta ao mundo...apesar de bonita e siliconada, não se interessava em tirar carteira de motorista mesmo tendo 33...tão tranqüila. Eu, completei 18 já fazendo aulas de legislação, a emissão do meu título de eleitor data do dia do meu aniversário de 16 anos...tão apressada.
E assim fui....lamuriando.....lamuriando....e minha irmã me olhando com aqueles olhos verdes a me escutar.
Então ela soltou uma máxima – clichê, mas uma máxima – “Polly, o Nadin (meu cunhado) sempre fala que a gente acha que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa”. Aí dei um pause. Comecei a refletir.
Tinha uma colega, há uns três anos atrás que tinha um corpo invejável. Cinturinha de pilão, uma bunda sem educação, coxas grossas e bem torneadas. Ela não malhava, só comia besteira e muito. Certo dia, estava eu no quarto dela, ela foi trocar de roupa na minha frente. Putz! Que decepção. Aquela bunda de dar inveja na feiticeira era pura celulite, caída, murcha. Gente! Era muuuuuita celulite.....com uma bunda daquelas eu não colocava nem o maiô que minha vó crente usa quando vai à praia. A cinturinha de pilão vai lá, era verdade. Mas os seios....aqueles seios empinados...era o sutiã. O peito caído, murcho, desanimado.....
Depois lembrei de outro caso. Conheci a família perfeita (não sei se vocês sabem, mas minha família é ultramoderna, pai, mãe, madrasta, enteadas, meia-irmã (o que eu não engulo porque a filha do meu pai com minha madrasta é minha irmã total)). Cheios da nota, era (mesmo os adultos) papai pra cá, mamãe pra lá, amo minha sobrinha, meus irmãos são ultra mega inteligentes, aliás, todos da família eram. Certo dia, numa bebedeira, um dos membros me relatou que desde pequenos o pai e a mãe os obrigavam a chamá-los de papai/mamãe, se chamassem de pai/mãe, eles fingiam que não ouviam e obrigavam a chamar papai/mamãe na frente dos coleguinhas da escola, naquela adolescência bruta que a gente morre de vergonha dos pais. Um dos irmãos teve uma filha com a namorada do outro irmão. E a última confissão: minha mãe nunca me deu um abraço, mas eu tinha que chamar mamãe.
Então, eu concluí (pra não render assunto), a gente sempre acha que o outro está melhor no páreo do que nós. Olhamos sua grama, que por coincidência ou não, sempre fica no quintal do lado de fora da casa, e pensamos que ela é mais verde que a nossa. Depois disso, nunca mais achei ninguém perfeito nem melhor que eu, porque estou muito satisfeita quando entro dentro da minha casa. E minha grama?...aaaa....deixa para os vizinhos olharem...
Jogando a toalha
Hoje não vou fazer nada. Nem olhar o relógio, nem arrumar os travesseiros, nem estender a toalha. Acho que estou jogando a toalha...
Nem comer tive vontade.
Fui embora chorando, deixei as portas e as cortinas abertas, sem olhar. Esbocei falar a minha verdade. Não tive coragem. Talvez ela seja só minha mesmo...
E então me dei conta que o duro da vida é a vontade castrada. Essa é a verdadeira dureza. E embora nos achemos cheios de nós, cheios de adjetivos e preposições, algum dia nos descobrimos castrados. Penso que agora estou castrada.
E nesse estado de falta todo problema é maior, toda poesia é pior, toda música tem menos ritmo, toda reza tem menos valor. Qualquer caminho vale. Vale o sul, vale o norte e vale não valer.
Vale aceitar e engolir qualquer prato. Qualquer oferta maldita de sorrisos sórdidos cheios de dentes amarelados, embaçados.
Os olhares me engessaram. Estou paralisada de tanta demasia. Estou estagnada de tanta covardia. Estou interpelada por meu juízo que hora me diz que sim, e agora me diz que não.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Procuro
Nas últimas luas tenho me procurado. Não me achei nas anáguas, não me achei nas palavras, não me achei... em alguns lugares, nem sequer procurei.
Nos panos mofados de uma alma em buracos. Buracos de traças. Pequenos, grandes, não importa. Não os vêem.
Acho que não procurei. Preguiça...
Pecado em transe de criança.
Neste tempo achei algumas coisas. Algumas pessoas. Um pouco de perfume...
Muito de dias que eu deixo que me roubem.
É. Talvez não esteja perdida. Talvez esteja roubada.
Mas, mesmo quando se está roubada... pode-se se procurar.
Procurarei nos pêlos. Nas dobras. Nas obras....
Procurarei no buraco. Por que as traças... as traças não vão me pegar.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Dias de algodão
Há dias, e que dias! Desses que a vontade é que a alma se misture com a cama. Uma cama coberta de algodão. Macia, alva, para que não se diferencie alma da cama alva. E nessa ausência de cores, que ninguém nos enxergue: nem cama, nem alma. E que o sol dê sua volta, e que as estrelas marquem sua presença, e que no pensamento se coloque cada coisa em seu lugar. E os sentimentos-pensamentos rumem para seus endereços. Rua, número e não bastando, retornem à cama alva de algodão.
E assim, quem sabe, quando a lua der a sua graça – redonda, grávida, nos retiremos da alva cama e nos misturemos às cores, às flores, às diferenças que espetam servindo de chão para tudo que se dá, que se renova, que causa medo, que leva à cama, dessa vez, quem sabe, apenas de algodão à procura de cores que possam disfarçar.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
As mulheres que busco
Construo fogueiras. Elas nos dão um pouco de trabalho. Graveto por graveto. Apenas com um graveto não temos a fogueira. Quando penso que mulheres como eu viraram cinzas em fogueiras, sinto que a vida melhora a cada dia. Mulheres bruxas, mulheres... apenas mulheres. Dizem que todas as mulheres são bruxas por natureza. Não concordo. Algumas desprezam esse lado magnífico de estar apta à sentir a vida, à escrever a vida, sua própria vida. Algumas mulheres são seres divinos. Mães, esposas, amantes, internas. Outras se apegam à dependência de alguém, à vontade de servir a troco de si próprias, ao cômodo lugar de segundo plano.
Não é essa a mulher que busco ser. Quero ser um graveto, na verdade quero ser um estupro, quero invadir o mundo com meus pensamentos, com minha vontade de nos tornar igual, de nos fazer estar no mesmo palco, com vestes diferentes. Cada qual à sua vontade.
O mundo precisa de mulheres assim. Já as tivemos, ainda as temos. Gravetinhos espalhados por alguns lugares. Busco mulheres que me ajudem a acender a fogueira, a por fogo no mundo, nos corações. Busco mulheres que olhem nos olhos e digam de si, digam de suas verdades (mesmo que passageiras). Busco mulheres que mudem de idéia, que mudem de marido, que mudem de roupa e de corpo. Essas são bons gravetos para minha fogueira.
Falo das mulheres por que as conheço bem, sou uma delas. A força que se faz para colocar para fora uma vida, uma alma, é muito maior que a força que se faz para amarrar os cadarços dos sapatos engraxados todos os dias, por todo o ano, para dar o nó na gravata, para garantir a terceira ereção.
Busco mulheres com caldeirões. Que tenham coragem de cozinhar ali dentro todo o mal, para que de alguma forma ele se faça bem e, é claro...com um pouco de tempero, algumas ervas. Busco bruxas como eu que querem por fogo no mundo, que querem ser o fogo de suas próprias existências.
sábado, 8 de maio de 2010
Uma mãe à frente de seu tempo
Mãe. Será que nos damos conta de quantas vezes repetimos essa pequena grandiosa palavra no tempo de nossas vidas? Com certeza, quem as tem, muitas....
Eu perdi minha mãe aos 16 anos. Ela não morreu, ela mudou, adoeceu....
Quando ela era saudável, brigávamos quase que todos os dias. Eu queria uma mãe perfeita, ela era uma mãe trabalhadora, que se cuidava, que pensava muito nela. Às vezes, eu não a compreendi. Na verdade, quase todas as vezes. A achava egoísta. Mas ela era uma mulher de pulso, “o homem da casa”.
Ela tinha um bom cargo na principal empresa da cidade, passava o sábado todo no salão de beleza e se recusava a fazer o almoço de domingo. Os abraços, beijinhos, carinhos, recebi do meu pai.
Depois que ela adoeceu e passou a depender mais de mim que eu dela, fui buscar a mãe que não conhecia. Descobri, com orgulho e satisfação que ela era uma mulher à frente de seu tempo. Em seus muitos livros, os quais herdei por desaforada que sou, descobri livros de yoga (há 35 anos atrás), quando nem se falava nisso. Achei o alcorão, escrito em árabe, livros sobre a força do pensamento positivo e da lei da atração, antes mesmo de todo esse sucesso do “Segredo”, por exemplo.À vezes, deito em sua cama com ela e peço perdão por tudo que fiz. Não sei se ela me compreende, mas ela sorri e isso é maravilhoso!
Enfim, ela estava à frente. E eu me orgulho disso. Orgulho-me de você, mãe. Você não trocou todas as minhas fraldas, nem me fez dormir todas as noites, mas me deixou um legado: também ser uma mulher à frente do meu tempo. Obrigada por isso. Espero poder corresponder.
Te amo, minha flor.
sábado, 1 de maio de 2010
Eu me lembro
Eu me lembro de você em muitas coisas...em algumas cenas de filmes, algumas roupas que vejo nas vitrines, outros óculos de sol por aí, nas lojas de sapato, então!....rsrss
Eu me lembro de você naquele vestido marrom burro fugido curtíssimo no primeiro dia de aula na facu de jornalismo e no dia que você me recebeu de mala e cuia na sua casa de boneca. Algumas das minhas melhores lembranças estão ali. Aliás, aí. No apartamento do ponto final da Henrique Gourcex.
Eu me lembro de você sorrindo. Não gosto quando está de mau humor, não gosto quando é dura demais consigo e com os outros, não gosto quando você se deixa manipular por um suposto amor da sua vida e esquecer que outros supostos amores da sua vida virão e que, talvez, o seu suposto amor de hoje, não te dê o que você quer porque bem sabe que você se sente culpada, que você daria uma mão pra ficar com ele, e, infelizmente, as presas fáceis de pegar são as menos valiosas.
Eu gosto de você mexendo o caldeirão, voando alto na sua vassoura de capim dourado e espalhando esse pózinho mágico que só você tem pelo ar. Em cima das nuvens, abaixo do céu.
Eu não gosto de você só nas horas que você está de bem com a vida. Gosto de você em todas as horas, mas....é....que eu queria tanto te ver só sorrindo e dançando....
Este texto da Martha é lindo. Venho praticando muita coisa do que ali está escrito. Mas existem certas pessoas em nossas vidas que quando estão por perto nos fazem felizes por nada, sem estar praticando, estar apenas sentindo.
T.A.
Eu me lembro de você naquele vestido marrom burro fugido curtíssimo no primeiro dia de aula na facu de jornalismo e no dia que você me recebeu de mala e cuia na sua casa de boneca. Algumas das minhas melhores lembranças estão ali. Aliás, aí. No apartamento do ponto final da Henrique Gourcex.
Eu me lembro de você sorrindo. Não gosto quando está de mau humor, não gosto quando é dura demais consigo e com os outros, não gosto quando você se deixa manipular por um suposto amor da sua vida e esquecer que outros supostos amores da sua vida virão e que, talvez, o seu suposto amor de hoje, não te dê o que você quer porque bem sabe que você se sente culpada, que você daria uma mão pra ficar com ele, e, infelizmente, as presas fáceis de pegar são as menos valiosas.
Eu gosto de você mexendo o caldeirão, voando alto na sua vassoura de capim dourado e espalhando esse pózinho mágico que só você tem pelo ar. Em cima das nuvens, abaixo do céu.
Eu não gosto de você só nas horas que você está de bem com a vida. Gosto de você em todas as horas, mas....é....que eu queria tanto te ver só sorrindo e dançando....
Este texto da Martha é lindo. Venho praticando muita coisa do que ali está escrito. Mas existem certas pessoas em nossas vidas que quando estão por perto nos fazem felizes por nada, sem estar praticando, estar apenas sentindo.
T.A.
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