Pensações

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segunda-feira, 10 de maio de 2010

As mulheres que busco


Construo fogueiras. Elas nos dão um pouco de trabalho. Graveto por graveto. Apenas com um graveto não temos a fogueira. Quando penso que mulheres como eu viraram cinzas em fogueiras, sinto que a vida melhora a cada dia. Mulheres bruxas, mulheres... apenas mulheres. Dizem que todas as mulheres são bruxas por natureza. Não concordo. Algumas desprezam esse lado magnífico de estar apta à sentir a vida, à escrever a vida, sua própria vida. Algumas mulheres são seres divinos. Mães, esposas, amantes, internas. Outras se apegam à dependência de alguém, à vontade de servir a troco de si próprias, ao cômodo lugar de segundo plano.
            Não é essa a mulher que busco ser. Quero ser um graveto, na verdade quero ser um estupro, quero invadir o mundo com meus pensamentos, com minha vontade de nos tornar igual, de nos fazer estar no mesmo palco, com vestes diferentes. Cada qual à sua vontade.
            O mundo precisa de mulheres assim. Já as tivemos, ainda as temos. Gravetinhos espalhados por alguns lugares. Busco mulheres que me ajudem a acender a fogueira, a por fogo no mundo, nos corações. Busco mulheres que olhem nos olhos e digam de si, digam de suas verdades (mesmo que passageiras). Busco mulheres que mudem de idéia, que mudem de marido, que mudem de roupa e de corpo. Essas são bons gravetos para minha fogueira.
            Falo das mulheres por que as conheço bem, sou uma delas. A força que se faz para colocar para fora uma vida, uma alma, é muito maior que a força que se faz para amarrar os cadarços dos sapatos engraxados todos os dias, por todo o ano, para dar o nó na gravata, para garantir a terceira ereção. 
            Busco mulheres com caldeirões. Que tenham coragem de cozinhar ali dentro todo o mal, para que de alguma forma ele se faça bem e, é claro...com um pouco de tempero, algumas ervas. Busco bruxas como eu que querem por fogo no mundo, que querem ser o fogo de suas próprias existências. 

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