Inegavelmente ela nasceu para ser a Chefe da Excursão. Ela
nasceu e sabia disso. Nessa viagem impura, que vai dar não se sabe onde, a ela
não cabia apenas uma cadeira entre tantas outras. De menina já se sabia
diferente. De tão diferente, não se sabia sofrida. Sofrida de sofridão. Não
tinha para quem contar, tão pouco com quem contar, então fingia e acreditava.
Fingia e acreditava.
Cresceu Chefe da Excursão. Aprendeu todas as lições: ser
simpática além do possível, sorrir, ser inteligente além da média, sorrir,
escorregar de uma cantada com jeitinho, sorrir, levar uma bronca, sorrir,
deixar quem ama nos últimos lugares, sorrir, ser desobedecida, sorrir, engolir
sapos, sorrir, não ser ouvida, sorrir, sofrer com a indiferença de alguns, sorrir,
perder, sorrir e sorrir também (vide facebook). Mas havia o gratuito de sua
existência. O carisma, a confiança, o jeito certo de fazer-se ver, o fácil
olhar no olho, o forte aperto de mão, o abraço de dois braços, o enigma que
atrai, a impostação adequada da voz, o português correto, a palavra certa, o feeling, a criatividade e o sorriso.
Ela não é falsa, é falsete. Não mente, apenas não conta toda
a verdade.
Só que ser Chefe da Excursão o tempo todo, aprendeu ela
agora: cansa. Cansa as pernas e as pernadas, os braços e as braçadas, a face e
os sorrisos, os lábios e os beijos, a garganta e os gritos, a coluna e a postura,
a cabeça e as cabeçadas. Sendo Chefe da Excursão, perdeu todas as paisagens,
não aprendeu o caminho, não teve tempo para o lanche, remoeu amarguras sem ter
alguém na poltrona ao lado. Estava de costas para a estrada.
Mas era a Chefe. E ser chefe tem lá seu glamour, oras. Estar
no comando é um prazer, um deleite, pura luxúria para sua alma de superior. Mas
superior a quem, já que quando a viagem acabar ela não terá mais função, além
de descer na mesma estação que todos?
Ela vai aprender a ser viajante. Dura lição de ser apenas
mais um. Só que mais um aproveita melhor o passeio e ela quer vento no rosto,
mãos dadas na poltrona, soninho de viagem, quadros verdes de paisagem, falar
baixo...vai sentar no banco, aprender a ser melhor.
O que ela nunca deixará de ser mesmo é viúva de Vinicius,
Neruda e Jim e algumas coisinhas mais...
4 comentários:
Triste, flor?
Nada...só na auto-crítica mesmo...pensando....
Você sabe o quanto eu admiro vc e seus textos né linda. Bjo saudade demais. Fernando Mageski
Obrigada, Fê!!!
Saudade, meu lindo!!!
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