Pensações

Pensações

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Uma teoria sobre os homens

Essa teoria trata da conduta masculina relativa às mulheres em termos de relacionamento afetivo-sexual , fique claro. Não tenho aqui, a pretensão de abarcar todos os possíveis tipos de homens, menos ainda, todo tipo de comportamento deste sexo, seria simplificar demais. Mas num esboço geral, em minhas observações, convivências, escutas, experiências, roda de amigas e amigos, cheguei a algumas conclusões que me servem hoje.

O sexo masculino pode ser dividido em três amplas categorias. Uma mais numerosa que a outra, outra... raríssima.

O primeiro tipo é o homem que gosta da mulher. Ele se interessa pelo nosso universo, pelos nossos conflitos, pela forma como enxergamos o mundo e as pessoas. São aqueles que fixam o olhar em nossos olhos quando falamos de nossos sonhos, de nossa realidade, das dores que já enterramos e das que estamos tentando enterrar. Ouvem atentamente até mesmo quando estamos indecisas se vamos hidratar os cabelos com essa ou aquela marca e, mesmo sem entenderem nada do assunto, no outro dia mandam um e-mail com uma pesquisa que fala dos produtos que citamos na noite anterior.
Esse homem sabe muito bem que no espaço de um mês passamos por três curvas perigosíssimas em nossa montanha russa de hormônios e se diverte com isso, porque sabe que é só e somente por isso que nossa pele é macia e sem pelos, somos abençoadas com curvas e saliências e temos essa vozinha doce que, às vezes, o acorda no meio da noite pedindo pra se encaixar em seus braços, tudo muito particular do nosso gênero. Como se não bastasse, acham ótimo ter três mulheres em uma.
Na hora do amor, são capazes de esquecerem a hora em carícias na dobra interna entre o braço e o antebraço, também onde termina o bumbum e começam as coxas, na curva da cintura ou naquele ossinho lateral que eu não sei o nome. São desbravadores daquele corpo que têm nas mãos e paciência não lhes falta para saber onde causa o maior arrepio. Eles têm paciência para amar, ou melhor, eles têm prazer em se demorarem nas órbitas e nem nossos pés lhes escapam. Amam calmamente, mas podem virar animais indomáveis nas horas que couber (e eles sabem a hora que cabe).
Você nunca vai ouvir um homem desses chamar uma mulher de vagabunda nem falar de intimidades numa roda de amigos, mesmo que a mulher seja uma vagabunda e que haja muitas intimidades a contar.
Ele lê, se interessa por diversos assuntos, gosta de arte e, na maioria dos casos, é um bom entendedor e sabe saborear um bom vinho.

Um outro grupo de seres de “composição testosterônica” também gosta de mulheres. Mas são totalmente diferentes dos de cima. Eles gostam mesmo é de transar, sentem atração física por mulheres. Algumas vezes (principalmente no primeiro encontro ou nos primeiros meses de relacionamento) podem ser facilmente confundidos com os primeiros, porque se querem transar com mulheres, logo, terão de se virarem em alguma sensibilidade. Mas rapidamente são descobertos. Paciência não passa nem perto de suas virtudes, por isso, eles mesmos se entregam, por exemplo, numa atitude do tipo: (três minutos depois do sexo) “aqui, meu braço ta doendo, da pra você virar pra lá?” ou (você engordou três quilos nas férias) “a calça não ta entrando não, né? Você sabe que eu não gosto de mulher gorda!”, ou, ainda, (você de TPM, querendo colo e manha, vai chegando pertinho dele no sofá, encosta a cabeça no ombro do sujeito que você acompanha assistindo Datena) “porra! Tinha mais era que ser estuprada mesmo, olha o tamanho da saia da vaca! Agora o outro é que vai tomar a culpa de existir tanta piranha nesse mundo!” – nisso, se sua cabeça não fosse bem presa ao pescoço, você já estaria sem ela com o sobressalto do rapaz.
No sexo, eles são bem pontuais, praticam o chamado sexo “cara, crachá”. Expliquemos: o sexo ‘cara, crachá’ é muito simples. Com perdão das expressões vulgares (eu não teria outra maneira de fazer-me entender), é um minuto de mão no peitinho, um de mão na periquita e já parte pra invasão. Aí é sexo pra todo lado, um vai e vem danado, mecânico, clínico. “Agora fica assim, não, abaixa mais!”, “Fica de quatro!” Enfim...não que seja ruim, mas que não seja sempre. Cabelo, nuca, pescoço, ombros, rosto, mãos, costas, braços, não fazem parte do cardápio desse segundo grupo.
Caso você termine com ele, pode saber, vai te chamar de vagabunda na roda de amigos, falar que você era muuuuuito enjoada, que era um saco ir na casa de seus pais, vai contar para esses mesmos amigos o que você achava deles (só as coisas ruins) e os caras vão ter certeza que você era um pé no saco. E o pior: sabe aquelas pequenas fraquezas que confessamos dentro de um abraço, aqueles segredos tão íntimos revelados numa noite de lua cheia e aquela mania que só ele sabia? Ele vai contar.

Já o terceiro tipo faz parte dos que não gostam de mulheres (no sentido explicado na introdução). Os homoafetivos. O negócio deles é o mesmo que o nosso. São óóóóótimos amigos. Em dois minutos produzem seu visual, jogam pra cima seu astral e você anda pela casa de calcinha e sutiã, pondo a mesa do café, contando o caso daquela colega fura olho da repartição e ele neeeeeem aí, igual sua irmã.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Descobri ontem à noite

Só ontem à noite descobri o porquê eu não tinha nada a dizer (postagem anterior). Era porque a Lua estava in-des-cen-te!(eu ainda não sabia, mas sempre sinto). Ela calou a boca de todos que têm um mínimo de bom senso e sensibilidade.

Só a vi lá no parque. Ela estava tão generosa! Despida, ela não se incomodava em ser observada. Abusada, exibida...mas ontem ela podia. Ela era a beleza querendo ser bela.

Passei três horas a observando e queria mais. Hoje vou ver de novo, não sei se vai estar esnobe como ontem, mas só de estar, já me satisfaz.

A primeira Lua cheia desse verão!!!!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Nada

Tem dias que não temos nada para falar. E assim ficamos.
Deve ser o vazio, ou o calor...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O homem do sapato furado

Eu vou contar aqui uma história de um homem. Esse homem é um vencedor. Sabe quando falamos aquela frase “fulano venceu na vida”, pois é, é disso que se trata. Mas existe um porém: esse homem, esse mesmo, o vencedor, não tem, hoje, casa própria, seu carro e da esposa estão alienados, seus sapatos estão marcados pelos passos dados, suas camisas já perdendo a cor e sua filha caçula, ainda uma criança, não vai ganhar de natal um presente da ‘Estrela’ ou o último lançamento da Barbie.
Depois de vender picolé nas ruas de Santa Catarina, ainda criança, antes de completar os dez anos, comer farinha com café de manhã, entrar para o exército aos quatorze anos, virar “peão de trecho” para ganhar o mundo e passar por toda sorte de necessidades e desalentos, a vida, essa grandiosa inexplicável, o fez criar raízes numa cidade do interior de Minas Gerais.
Trabalhou. Trabalhou tanto que foi condecorado ‘Operário Padrão Minas Gerais’ no ano de 1992. Não satisfeito, subiu a rampa do Palácio do Planalto para receber das mãos do então presidente da república, Itamar Franco, o segundo lugar no prêmio ‘Operário Padrão Brasil’.
Ao se aposentar, esse homem passou a vender parafusos num cômodo aberto em sua casa. Era agora um comerciante. Sem dinheiro para propinas, agrados ou subornos, foi usando da perspicácia adquirida com o passar dos anos para, de sol a sol, se tornar um empresário bem sucedido.
No ano de 2007, sua empresa contava com quase duzentos funcionários. O galpão cuspia serviços, meninos que entraram na empresa como ajudantes, já se formavam técnicos ou cursavam faculdade. Prédios, apartamentos, lotes, inúmeros carros, posses, festas intermináveis...
Mas esse homem nunca cansou de trabalhar. Visitar a empresa era um ritual diário, sem domingos nem feriados. Certa feita, em meio a um serviço de grande dimensão, o qual despendia número grande de homens e homens que trabalhassem horas a fio, ele apareceu. No refeitório. Era hora do almoço.
Eu não sei o que se passou em sua cabeça entre aqueles poucos segundos que separaram o que ele viu que era servido a seus funcionários cansados das intermináveis horas trabalhando com uma marreta na mão, usinando uma peça ou na beirada do torno, de sua reação explosiva.
Os que testemunharam contam que palavrões, socos na parede e o suor escorrendo pelo rosto foram as reações que se podiam ver externar naquele homem. Seus funcionários foram servidos com arroz, feijão, uma mistura e um ovo frito. Sim...administradores são assim. “Corta tudo, corta onde puder, o dinheiro pode e deve entrar, mas não deve ser gasto com coisas que “não trazem lucro”” como uma boa e digna refeição a quem empregava energia para gerar dinheiro.
De olhos espantados, os funcionários a tudo assistiam. O chefe havia enlouquecido?
E ainda cuspindo palavrões entrou no carro e voltou em minutos. Quilos de carne bem preparada e litros de coca-cola bem gelada ele trazia. E distribuiu. Mas chorou também.
Eu me pergunto onde foi que doeu, qual lembrança o remeteu aquela cena no refeitório, onde foi que, em sua vida, a dor da fome e do descaso fora maior que qualquer outra dor?
Naquele dia ele ganhou mais um de seus troféus, só que esse não está exposto nos corredores da empresa ou em sua sala...está bem guardado no coração de cada um daqueles que ali estavam.
Hoje, também pelo mistério da vida, ele luta para recuperar o que perdeu nos anos que se seguiram. Quando seu sapato fura a sola, ele manda remendar. A isso eu assisti, os anjos também, talvez com mais orgulho que eu

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

E daí?

Passamos toda nossa vida com uma companheira inseparável. Para muitos, é assustador. Eu não, já me acostumei com ela e até penso que não é tão ruim assim. A maioria das pessoas passa a vida inteira sem pensar nela, mas é em vão: ela está aí.

Essa inseparável é a morte. Não adianta espernear. Não sabemos em que ocasião, em que tempo, onde será, mas sabemos. Essa consciência de finitude pode ser usada de duas maneiras: ou a ignoramos e permanecemos escravos das teias das convenções, nunca sendo nós mesmo, deixando de falar o que pensamos, nos anulando para agradar aos outros, não dizendo ‘eu te amo’, não dando aquele abraço apertado na mãe, no filho, no amante. Ou, podemos fazer dela uma grande aliada, praticando todos os dias a magia de sermos nós mesmos. Essa magia se revela na tatuagem que você tanto quer fazer e faz, mesmo que desagrade seu pai, naquela roupa que você tanto quer usar mesmo que os outros digam que “você já não está mais na idade”, quando você chama de filho da puta os filhos da puta, transar no primeiro encontro quando a atração tenha sido fatal sem se preocupar com: “o que ele vai pensar de mim?”, pular de páraquedas, ligar para aquela pessoa que você está com tanta saudade só para dizer que está com saudade...enfim, lista imensa. Fazer uma loucura íntima (é, essa mesma que você pensou agora e que não revelaria nem para deus). Alguém vai ficar chateado? Vai. Muitos vão te tachar de louco? Vão. Alguns recalcados irão fazer piadinhas? Vão.

E daí?

A opinião dos outros a seu respeito é a opinião DELES a seu respeito. Se você sofre com essas opiniões, está assinando o atestado de que o que os OUTROS pensam é mais importante do que o que VOCÊ pensa.

Certa vez, li uma pesquisa científica cujo objetivo era saber o que os doentes terminais e conscientes de sua breve morte gostariam de fazer se o tempo pudesse voltar atrás. Quase que por unanimidade a resposta foi que deixariam de se preocupar tanto com o que os outros pensavam sobre eles e iriam tratar de realizar seus desejos.

Isso não é o bastante para você convidar sua esposa para uma segunda lua-de-mel mesmo pagando com o cheque especial?

E daí?

Não estou dizendo aqui para você pegar uma muda de roupa e ir ser back vocal do Ventania (claro, se é isso que você quer, vá em frente). O equilíbrio é a verdadeira felicidade desse mundo. Mas, se você acordar um dia descabelada e quiser chutar a mesa do seu chefe arrogante ou chegar numa sexta-feira à noite e ir para o baile funk gritando “só as cachorras!” e daí?

Coragem!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O capitão de sua alma

Meus deuses respiram. Sou muito humana e minhas orações e pensamentos, muitas vezes, precisam de formas para que eu compreenda. Os arbustos nos quais preciso me apoiar ainda têm raízes que penetram infinitamente o chão. O céu é longe...muito longe...

Por isso leio poemas e abstraio em telas. Ouço música. Minhas orações espontâneas. Todas criadas por deuses que sangram.
Nelson Mandela é um deles. O dono da alma incansável, o mestre de seu destino. Mesmo com minha paixão pelos livros, sobre ele vi apenas filmes, além de muitas, muitas reportagens.

Há alguns anos saboreei ‘Mandela: a luta pela liberdade’. São trechos ínfimos de vinte anos na prisão de Robben Island, onde mesmo passando por muitos horrores, sem certeza alguma do que poderia lhe acontecer no outro dia, manteve-se intacto, íntegro e perseverante.
“Além deste lugar de raiva e lágrimas
É iminente o horror da escuridão,
E ainda o avançar dos anos
Encontra, e me encontrará, sem medo.”

Esse é um trecho de um poema que ele escreveu na prisão, mas que serviu como uma espécie de oração, reafirmando o que há de óbvio num ser inconquistável.

Mandela foi libertado, tornou-se presidente da África do Sul, ganhou um Nobel e tantas outras honrarias. Mesmo antes de saber que venceria, já recitava:
“Nas cruéis garras da circunstância
Eu não fiz cara feia ou sequer gritei.
Sob as pauladas da sorte
Minha cabeça está sangrenta, mas não rebaixada.”

E assim sigo na fé. Repetindo as orações dos meus deuses palpáveis. Acredito que um pouco de observação servirá para entender que Deus o enviou, assim como tantos outros. Mandela mesmo recorre a eles, os outros deuses, pois até o diamante é passível de desgaste.
“Noite à fora que me cobre
Negra como um breu de ponta a ponta,
Eu agradeço, a quem forem os deuses
Por minha alma incansável.”

Eu também. Obrigada, Nelson Mandela.

O poema, ouvi no filme ‘Invictus’, imperdível história sobre a capacidade deste homem. Não sei se seu título está correto, mas segue o poema na íntegra:

Invictus (tradução)

Noite à fora que me cobre
Negra como um breu de ponta a ponta,
Eu agradeço, a quem forem os deuses
Por minha alma incansável.

Nas cruéis garras da circunstância
Eu não fiz cara feia ou sequer gritei.
Sob as pauladas da sorte
Minha cabeça está sangrenta, mas não rebaixada.

Além deste lugar de raiva e lágrimas
É iminente o horror da escuridão,
E ainda o avançar dos anos
Encontra, e me encontrará, sem medo.

Não importa o quão estreito seja o portão,
O quão carregado com castigos esteja o pergaminho,
Eu sou o mestre de meu destino;
Eu sou o capitão de minha alma.

Amém.