Pensações

Pensações

domingo, 24 de agosto de 2014

Lambuze-se


E mesmo que de forma mínima e compacta, tendo, por exemplo, uma noite num motel, não se reserve, não deixe de se lambuzar de tudo que lhe é ofertado.

A vida é uma uma incógnita. Ninguém tem certeza da certeza.

Então, meu filho (a), aproveite. o fim pode estar ali na esquina.


sábado, 16 de agosto de 2014

Atropelar o ciclista


Então estava vindo do mercado, aquele dia que sua geladeira parece um buraco negro e você, antes de desabotoar o sutiã apertado do dia todo de trabalho, já respirando fundo para aquele momento relaxamento, lembra-se de que não aguenta mais omelete e volta atrás.

Na volta, passando pela praça, encontro-me com um amigo de anos, pessoa da melhor qualidade, pela qual tenho muito respeito e consideração. Daqueles bons e velhos amigos que só de te olharem sabem se você precisa dar uma volta, tomar uma cerveja ou um porre.

Abraço apertado e um pedido sussurrado, quase mudo, quase que não era pra ser, quase que precedido de um pedido de desculpas: - querida, estou apoiando um candidato a deputado federal, fulano de tal e preciso de conseguir mil votos nessa regional. Posso contar com você?

Aí pegou no meu fígado.

Conheço o fulano, sei de seus processos, suas falcatruas e sua índole nada recomendável.
Uma cara enorme de tacho tomou conta de mim. Quase sem reação disse que iria apoiá-lo, sim...e aqui me encontro, após esses sete dias, sem tirar essa afirmativa da cabeça.

Não, eu não vou votar em fulano. Nunca me corrompi, mesmo no meio dos mais corrompíveis mantive minha bandeira asteada e meu olhar limpo. Não seria agora, não será. E sem nenhum medo de parecer egoísta, prefiro trair aos outros à trair a mim mesma.

Mas a coisa é mais complexa.

Meu amigo precisa de um emprego melhor e por isso se dá ao desfrute de se corromper. A falta do dinheiro no bolso me parece doer mais que o frio. Só que sem querer parecer piegas, o meu voto pesa muito para a pessoa mais importante nessa lambança toda: eu mesma. Porque meu voto é pensado, analisado, estudado, comparado...o pequeno grande poder que, mesmo tão individual, é o que há de mais coletivo nessa Nação.

E essa fita não dá para rebobinar. E as pessoas, mesmo boas, mesmo maduras, mesmo vividas, não estão prontas para uma conversa aberta e franca, entremeada por uma justificativa que nos cabe dar a quem vale à pena.

Portanto, entre decidir desviar meu carro de um ciclista ou de um ônibus, já agradecendo minha professora de direção defensiva nos primórdios da humanidade, atropelo o ciclista...e fim de papo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Quero brincar com você de novo




Fiquei mesmo. Desculpe-me o ocorrido. Assumo minha culpa inteira, não porque só a mim ela pertence, mas para não ter que tanto me justificar. 

Foram dias disléxicos. 

Uma demorada transição, o fechamento de um ciclo, uma mudança de gostos - os mais íntimos, os mais entranhados - uma suposta desordem, cem anos, sete dias.

 Eu me molhei desapercebida na chuva, eu estava com fome, eu tive prazos para entregar, eu acordei atrasada, eu não pude perder aquele show...aquele encontro...eu viajei, sim...eu viajei, eu tive insônia...eu não dormi! Eu fui madrinha de casamento, eu fui injustiçada, eu fui mal interpretada, era aniversário da minha mãe, estava muito quente, eu estava muito cheia, eu não queria trabalhar, eu fui perseguida, era o início da dieta, era a visita de minha irmã, era o documentário na tv, fui ao médico, eu fiz um curso, eu fui roubada, estava apaixonada, fiquei doente, troquei os remédios, mudei de casa, eu perdi a coragem, eu não quis me levantar, eu estava com frio, eu estava chorando, eu estava na rua, na night, na noite, no rock, na gandaia, eu estava deliciosamente desocupada, estava bêbada, eu estava eufórica, eu estava sonhando, eu estava afastada, eu estava machucada, eu estava por cima, eu estava sem inspiração.

Não só uma vez, ou duas, ou meia dúzia ou centenas delas, eu lhe olhei. Olhar demorado, olhar de dúvida, olhar de apego e rejeição. 

O que posso lhe dizer, se puder diminuir a sensação de quase nunca mais, é que mais longe estava ainda de mim mesma. 

Perdoe-me, perdoe-me por esse hiato. Afinal, perder-se é humano, reencontrar-se é divino. 

Eis-me aqui novamente.