Pensações

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sábado, 16 de agosto de 2014

Atropelar o ciclista


Então estava vindo do mercado, aquele dia que sua geladeira parece um buraco negro e você, antes de desabotoar o sutiã apertado do dia todo de trabalho, já respirando fundo para aquele momento relaxamento, lembra-se de que não aguenta mais omelete e volta atrás.

Na volta, passando pela praça, encontro-me com um amigo de anos, pessoa da melhor qualidade, pela qual tenho muito respeito e consideração. Daqueles bons e velhos amigos que só de te olharem sabem se você precisa dar uma volta, tomar uma cerveja ou um porre.

Abraço apertado e um pedido sussurrado, quase mudo, quase que não era pra ser, quase que precedido de um pedido de desculpas: - querida, estou apoiando um candidato a deputado federal, fulano de tal e preciso de conseguir mil votos nessa regional. Posso contar com você?

Aí pegou no meu fígado.

Conheço o fulano, sei de seus processos, suas falcatruas e sua índole nada recomendável.
Uma cara enorme de tacho tomou conta de mim. Quase sem reação disse que iria apoiá-lo, sim...e aqui me encontro, após esses sete dias, sem tirar essa afirmativa da cabeça.

Não, eu não vou votar em fulano. Nunca me corrompi, mesmo no meio dos mais corrompíveis mantive minha bandeira asteada e meu olhar limpo. Não seria agora, não será. E sem nenhum medo de parecer egoísta, prefiro trair aos outros à trair a mim mesma.

Mas a coisa é mais complexa.

Meu amigo precisa de um emprego melhor e por isso se dá ao desfrute de se corromper. A falta do dinheiro no bolso me parece doer mais que o frio. Só que sem querer parecer piegas, o meu voto pesa muito para a pessoa mais importante nessa lambança toda: eu mesma. Porque meu voto é pensado, analisado, estudado, comparado...o pequeno grande poder que, mesmo tão individual, é o que há de mais coletivo nessa Nação.

E essa fita não dá para rebobinar. E as pessoas, mesmo boas, mesmo maduras, mesmo vividas, não estão prontas para uma conversa aberta e franca, entremeada por uma justificativa que nos cabe dar a quem vale à pena.

Portanto, entre decidir desviar meu carro de um ciclista ou de um ônibus, já agradecendo minha professora de direção defensiva nos primórdios da humanidade, atropelo o ciclista...e fim de papo.

2 comentários:

Alex Ferreira disse...

Pollyane, melhor do que a direção defensiva é a preventiva. Assim, você não precisará defender-se de nada e vai prevenir, ou evitar, qualquer atropelamento do ciclista. Rsrsrs. Quanto ao amigo que precisa eleger um candidato, coitado dele.

Anônimo disse...

iiiiiiiiiiii detesto seu ladinho politicamente correta fadinha

mi