Pensações

Pensações

terça-feira, 27 de maio de 2008

Fantástica carta ao Zeca Camargo

Oi, Zeca,
Neste texto que fala de heróis e suas sagas, encontrei terreno certo para falar de uma tristeza que me tomou desde semana passada, no exato dia em que você e meu queridíssimo Rubem Alves participaram de um 'Café Literário' na Bienal do Livro de Minas Gerais. Não cabia dentro de mim desde o dia em que vi a programação na qual dois dos meus poucos e grandes heróis da atualidade iriam falar sobre a possibildiade de viver o hoje sem pensar no amanhã (tema do bate-papo). O anúncio no jornal de maior audiência da capital mineira deixava claro que era aberto ao público.
No dia do evento, acordei bem cedo, lavei os cabelo e tirei a melhor roupa do armário. Máquina fotográfica na bolsa, gravador, papel e caneta para que nada fosse perdido.
No meu coração, que estava, naquele dia, do tamanho do mundo, só cabia esperança. Esperança de estar mais perto de pessoas com as quais eu dormi diversas noites, seja no livro que amanhecia emaranhado nos lençóis, seja na noite triste do domingo quando termina nossa revista semanal.
Pessoas que, acredito eu, pensam e transformam o mundo que nós vivemos hoje. Pessoas heróis. Heróis pessoas.
Pedi à minha chefe para sair uma hora mais cedo, pois tinha que pegar duas conduções até chegar ao local da exposição. De manhã, logo que cheguei ao trabalho, liguei para o telefone de informações da Bienal e me disseram que eu poderia chegar uns vinte minutos mais cedo (antes de começar o evento no qual você e Rubem iriam bater um papo com a platéia, 19h) que já seriam suficientes para eu estar cara a cara com vocês.
Prevenida, cheguei com uma hora de antecedência. O local do 'Café Literário' já estava lotado. Cheio de pessoas bem vestidas com crachás de patrocinadores. Um pouco antes da sete, veio o segurança nos avisar na fila imensa que se formava: "podem desfazer a fila, já não há mais espaço lá dentro!".
Fiquei muito, mas muito chateada ao ouvir aquilo. O resto, não preciso relatar a você. Pôde ver com seus próprios olhos e ouvir com os seus ouvidos atentos. As pessoas que formavam aquela fila, provavelmente, estavam ali depois de um dia cheio de trabalho, cansadas e talvez até sujas, mas tão esperançosas quanto eu. E eram, afinal de contas, num país que a grande maioria lê menos de um livro por ano, pessoas instruídas e sedentas por conhecer, ver, sentir e ouvir seus grandes heróis.
Houve um tumulto, alguns gritos de justiça (pois o local onde aconteceu a Bienal tem um auditório imenso), outros de "abaixo a ditadura!", alguém gritou lá no fundo "Rubem Alves, cadê você, eu vim aqui só pra te ver!"e eu me contentei a ficar ao lado da dona Judite, uma senhora de mais de setenta anos, com um livro que ganhara do filho nas mãos, esperando por um autógrafo, ou apenas um olhar. Uma senhora que conheci lá, que ficou tão paralisada - ao saber que não poderia transpor a fronteira fina de um vidro e ouvir os seus heróis - quanto eu.
A organização do evento se desorganizou. Não sabiam o que fazer. As pessoas lá fora não paravam de gritar e os convidados lá de dentro não poderiam ser desapontados, a conta era deles. Com um tanto de atraso e uma grande insatisfação, recebemos a notícia de que seriam feitas duas sessões. A primeira para quem já estava dentro do café e a segunda para o pessoal que gritava do lado de fora.
Eu, apaixonada pelo Rubem Alves e por você, não pude esperar a segunda sessão no auditório. A segunda condução que pegaria para chegar em casa só passava no centro da cidade, local que, àquela hora, já era muito perigoso. Quem estava lá dentro, certamente não se preocupava com o horário, estavam todos de carro.
Então, vim embora. Tirei uma foto da lua que estava cheia e linda lá no estacionamento. Vi você e o Rubem pelo vidro, só um pouquinho, só para ver...
Não pude te perguntar o que ensaiei, nem a ele. Meus heróis ficaram no vidro do lado de dentro. Eu sei que vou encontrá-los nos livros que ainda não li, nos que vou ler, ou, talvez, até mesmo em alguma bienal por aí.
Mas a dona Judite, com mais de setenta anos, que estava lá a esperar desde as 16h30 com seu livrinho na mão, talvez não...
Aquilo, para mim, foi o retrato de que, realmente, só a nossa elite tem acesso real à cultura. O retrato 3x4 do carão que os organizadores de uma Bienal do Livro, um local de democratização da cultura, passaram e nos fizeram passar.

*Comentário postado no blog do Zeca em seu post intitulado: 'Os heróis da (minha) juventude'

3 comentários:

Unknown disse...

Não fica triste não meu anjo, a culpa não é dele...
Vc vai sentir isto na pele, quando pessoas e pessoas cultas ou não, aguardarão ansiosas por um autógrafo seu...

Anônimo disse...

Não fique trite! Zeca sempre volta a BH, já veio 4 vezes.Ele é um fofo, super atencioso e de uma educação primorosa.
Aguarde o Sempre Um Papo, um evento literário super organizado, tudo programado com antecedência. Lá você poderá conhecer grandes escritores, falar com eles, tirar fotos, conseguir autógrafos com dedicatória.
Veja a programação no site : www.sempreumpapo.com.br
Abraço
Dinah ( fã do Zeca)

Anônimo disse...

amiga, "eu fiquei indignada também"...mas pensa bem: a gente tem feito tantas aventuras, tantas histórias, a gente exprimenta, tenta....e ainda por cima, teve a lua.....de recompensa...se é que podemos dizer isso de Rubem alves, afinal, ele e a lua, brilham como iguais....

amo...Eve.