O que significa o dia da consciência negra para você?
Há algum tempo que estamos pensando sobre isso. Quando aboliram a escravidão, imaginem, já fazia tempo que as pessoas pensavam sobre isso.
Então proponho, no dia da consciência negra, um pensamento diferente. O que te escraviza hoje?
Para alguns são os vícios, para outros o amor, para tantos a pobreza. Mas todos, acredito eu, têm um vício em comum. Tirando a neurose, que é óbvia e sem discussões, o que mais nos escraviza, hoje, é o sistema. Estamos acorrentados em correntes invisíveis e hostis.
O sistema te obriga a rir para o chefe que você detesta, te obriga a ter dinheiro para pagar as contas nos dias certos, te obriga a consumir petróleo, te obriga a andar bem vestido, te obriga a ler o jornal de hoje, te obriga estar com a pele boa e os cabelos lisos.
O sistema não te alivia quando seus bens são roubados, quando seu filho está emaconhado e doente, na verdade ele não te alivia nem quando você está doente.
O giro da máquina capitalista te obriga a mentir. Te obriga a ser desonesto mesmo no maior desejo de honestidade. Te obriga a escrever 'atenciosamente' no final dos e-mails quando na verdade você nem deu atenção. Somos uma assinatura no final da página. Somos médicos ou secretárias. Somos engenheiros ou advogados. Somos administradores ou administrados.
Eu gostaria de assinar no final de um e-mail de trabalho que eu sou amada pelo meu pai, que meus cabelos são castanhos, que meu dia está ruim. Por que não?
Um amigo perdeu o filho de sete anos e dias depois teve que assinar: fulano de tal, gerente de marketing. Ele, naquele momento, era dor. Mas o sistema o obrigava a ser gerente de marketing.
Você não tem celular? Você é um E.T. no sistema.
Messenger você tem, não é?
O sistema nos quer perfeitos. Nossa carreira tem que deslanchar, nossos finais de semana têm que acabar recheados de novidades, nossas viagens têm que ter muito agito, nossa história tem que ser a melhor.
Ai, para rodar no sistema, perdemos o direito de não atender ao telefone, da carta não chegar, de não ter dado tempo de comprar uma roupa nova por que a loja era longe. Perdemos o direito de não querer saber, de não querer anotar, de acordar naturalmente. Perdemos o direito até de morrer naturalmente. Há máquinas que nos põem a viver.
Para se libertar dessa escravidão, sugiro que comecemos um dia de cada vez. Não precisamos fugir como Zumbi, mas podemos nos encaixar menos e aceitar isso. Um dia, sem perceber, a senzala estará com as janelas abertas.
Esse blog é uma tentativa de não usar Prozac. Escrever é uma doença incurável. Mas, com certeza, uma das mais belas doenças.
Pensações
terça-feira, 20 de novembro de 2007
domingo, 11 de novembro de 2007
Do tamanho do infinito
Meu amigo Abílio morreu. Tirando a angústia, o que me resta é uma pergunta. Por quê?
Por quê ele foi tão cedo? No último final de semana, quando o encontrei, eu não falei o tanto que eu o amava, o tanto que ele era importante para mim, seja em nossas ilustres quintas-feiras, seja com um bom dia inesperado numa manhã de trabalho.
Não olhei nos olhos dele e disse adeus. Dei um beijo de tchau, até o próximo final de semana apenas.
Pego o celular e vejo na agenda o seu número. Quem vai atender se eu ligar? Quem vai ler meus poemas e sempre adorar? E meu livro, caro amigo. Você faz parte dele. Quando ele existir, onde você estará?
Você está off do messenger. Você está off pra sempre. Não vai mais me chamar.
Vou apagar seu número da minha agenda?
Vou deletar seu endereço de e-mail?
Vou fazer o que com as fotos?
E quinta-feira?
Pedro Bial disse que morrer é ridículo (ou será que foi o Jabour??).
Está sendo rídiculo...
Sabe aquele nosso telefone de falar com Deus?
Atende um dia, só pra me contar como você está....
Do tamanho do infinito
Ele não teve filhos
Tinha trinta e três
Sorria com liberdade
Não deixou dinheiro
Nem dívidas
Viveu com o que deu
A rua era sua inspiração
O bar, o momento de criação
Sua casa era de todos
Pagou o preço por pensar
“Ninguém pensa impunemente”
Escreveu depois de calcular
Seus poemas vão ficar
No coração de quem com ele esteve
Na alma, o brilho do olho
Que se foi
Foi pra onde?
Só o infinito é do seu tamanho.
Por quê ele foi tão cedo? No último final de semana, quando o encontrei, eu não falei o tanto que eu o amava, o tanto que ele era importante para mim, seja em nossas ilustres quintas-feiras, seja com um bom dia inesperado numa manhã de trabalho.
Não olhei nos olhos dele e disse adeus. Dei um beijo de tchau, até o próximo final de semana apenas.
Pego o celular e vejo na agenda o seu número. Quem vai atender se eu ligar? Quem vai ler meus poemas e sempre adorar? E meu livro, caro amigo. Você faz parte dele. Quando ele existir, onde você estará?
Você está off do messenger. Você está off pra sempre. Não vai mais me chamar.
Vou apagar seu número da minha agenda?
Vou deletar seu endereço de e-mail?
Vou fazer o que com as fotos?
E quinta-feira?
Pedro Bial disse que morrer é ridículo (ou será que foi o Jabour??).
Está sendo rídiculo...
Sabe aquele nosso telefone de falar com Deus?
Atende um dia, só pra me contar como você está....
Do tamanho do infinito
Ele não teve filhos
Tinha trinta e três
Sorria com liberdade
Não deixou dinheiro
Nem dívidas
Viveu com o que deu
A rua era sua inspiração
O bar, o momento de criação
Sua casa era de todos
Pagou o preço por pensar
“Ninguém pensa impunemente”
Escreveu depois de calcular
Seus poemas vão ficar
No coração de quem com ele esteve
Na alma, o brilho do olho
Que se foi
Foi pra onde?
Só o infinito é do seu tamanho.
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