Ela sempre acreditou que para o amor acontecer havia uma lógica bem definida: atração, química, paixão e, finalmente, amor.
Nunca teve dúvidas. Se acontecesse a química, a paixão era certa e, assim, foi acreditando. De tanto acreditar, tornara-se verdade, e verdade não muda. Verdade é verdade. Quem vai falar que não?
Quando não rolava química, nem se ocupava com uma segunda chance. Ignorava o poder das circunstâncias e friamente encaixava tudo na sua lógica de amor.
Quando não rolava química, nem se ocupava com uma segunda chance. Ignorava o poder das circunstâncias e friamente encaixava tudo na sua lógica de amor.
Não que tudo tivesse que virar amor. A história podia acabar em algum ponto e, ainda assim, ter valido à pena. Uma nova atração começava e ela, dona da verdade infinita, já sabia, despretensiosamente, as fases e as possibilidades. E assim seguia balançando seu vestido vermelho no caminho do amor em sua vida.
De uma discrição notável que a fazia absoluta com seus pertences, guardados timidamente debaixo de suas saias, entregou-se, no decorrer do caminho, a uma confissão, tal qual os fiéis aos sacerdotes. Sentiu-se segura para levantar as saias e, quase como num suspiro, confessou e dividiu. Já não era mais absoluta, mas ainda não percebera.
E acreditando cegamente na fórmula: atração, química, paixão e amor, não percebia-se prisioneira.
Nesse dia nublado e frio de uma confissão sussurrada, ele desenhou um sol, uma árvore e uma flor. E ela sentiu seu coração se aquecer, cantarolou umas canções e se perfumou de flores.
E entre confissões, doces e azuis, se envolvia sem perceber. "A lógica não era essa afinal ". Segura de suas verdades, ele abrira a porta de sua prisão com chaves de girassóis e, bem de leve, conduziu-a a sentir seu cheiro e tragar seu gosto.
Perdida entre tantas sensações, mesmo com medo de desconstruir sua lógica de amor e perder suas verdades indestrutíveis, a liberdade era irresistível. E ele a libertou, bagunçou suas certezas, revirou seu coração e, hoje, encontra-se aqui, nada absoluta, oferecendo-lhe suas anáguas e confessando baixinho: eu sou apaixonada por você.
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