Nos últimos anos minha vida tem sido bastante badalada. Mas
o engraçado é que o embalo, de fato, acontece na vida dos que me cercam, mas
certo é que me atingem profundamente. Tsunamis de alta escala e abalos sísmicos
de grandeza maior veem se acumulando em minha alma. Alguns me desfizeram
completamente, assim como em Hiroshima.
Aquele casamento,
naquele fim de tarde, pessoas de sangue, a noiva branca, corpo e mente crescidos
junto aos meus - naquele momento - pedaços. Custei a entender que não estava
perdendo. Meu lado bom sempre me lembrava “é para agregar...é para agregar”. Sofri
noites em claro tentando entender porque o tempo nos rouba as pessoas (ainda
não entendi que não perdi).
Depois veio o fato de ser tia. De tão intenso que vivo, ser
tia mexeu com minhas vísceras e meu coração. Ser tia me deixou boba, fanática e
explodindo de amor. E mais um terremoto se deu. E mais uma vez me segurei nas
arestas tortas da minha morada. E assim vou sendo tia de um ser que herdou o
olhar de quem não me quer bem. E então, vou entendendo,entre uma taça de vinho
e uma madrugada em claro, que nem todas as pessoas que queremos bem terão o
mesmo sentimento por nós. É, a psicanalista falou. Tive que concordar.
De repente, a morte. Ela morreu sem eu dizer: “você é a
irmãzinha que eu escolhi aqui na Terra”. Foi embora, sei lá pra onde, ainda não
sei bem porquê – nem vou saber. Foi sozinha, foi magra, foi doente, foi jovem e
eu, eu a vi uma vez depois da cirurgia...uma única vez, ao acaso. Onde eu
estava? O que eu tanto fiz que sequer tive tempo de lhe dar um último beijo na
face quente?
Agora casa-se minha grande amiga. As noites de loucura e
bruxaria terão um fim na badalada do sim, na próxima sexta. Não, não mais e
basta, recolha-se. Não fui à prova do vestido, não fui escolher os doces, não
fui sequer conhecer o noivo. Não fui. Não aprendi, eu acho. Não emagreci o
suficiente para ficar bem no vestido que escolhi, não clareei mais os cabelos
como imaginava, nem na despedida de solteira eu vou. Não há tempo.
Mas quando haverá?