Já andei muito, caminhei caminhos errados, companhias incertas, companheiros impróprios. Quanto mais me doei, mais de mim fui arrancada e, assim, perdi o compasso, o tom, a melodia. Desafinei nos mais simples refrões, me apaixonei por músicos e por minhas próprias paixões.
Fiz do samba, do reggae e da alegria, hinos rígidos que não tocaram em rede nacional. Vendi meu horário nobre sem garantias e nada me pagaram.
Por necessidade e, até por poesia, precisei voltar e caminhar de novo. Por avareza e, até por música, precisei me recolher e juntar minhas saias. Largaram-me na porta da igreja, num dia de sol, a quarenta graus.
E foi aí que minha fantasia se derreteu e acertei, de certo, a realidade. Tiro impecável, alvo certo.
Soltei as saias, aos poucos. Joguei fora as anáguas. Virei chuva, lágrima, sorrisos e beijos. Não desperdiço minha vida com nada que não seja minha própria vida. E nessa intensa paz misteriosa, deparo-me com admiradores mudos e invejosos desesperados.