Peço, ao tão esperado Ano Novo, apenas um piano. Mas não um piano qualquer. Menina de ver o bonito que sou, quero aquele de calda. Grande. Através do qual possa ver minha imagem refletida em sua madeira envernizada. Aquele piano dos grandes concertos nos quais as damas vestem-se de veludo e sapatos de verniz e carregam um leque a tira - colo para mostrarem ou esconder as emoções. Desses onde os cavalheiros vestem seu melhor fraque e sempre são gentis.
Novo Ano, permita que essas pessoas compreendam minha mistura de notas e que a cada uma que eu tocar, sincero e puro seja seu som.
Quando silêncio fizer, que seja a sublime hora dos aplausos, afim que eu me distraia da angústia de não conseguir tocar a canção que suplica minha alma transbordar naquele instante.
Por bondade ou merecimento, quando distraída tocar em um tom maior, que entendam que não é por desaforo ou desejo de errar, mas por ainda não ser capaz. Ainda.
Portanto, se não for pedir demais, quero um maestro que me visite vez ou outra e sussurre, baixinho, com as mãos sobre as minhas, a forma certa de se fazer.
Tempo, quando pedirem-me uma valsa que ainda não sei tocar, que faça-se entender que não é que não irei tocá-la, mas é que apenas ainda não a domino. Apenas.
Não peço aplausos nem vaias, só, e só mesmo, que as pessoas da fila da frente entendam que eu já pedi a alguém para me ensinar e que só ele sabe dos calos em meus dedos e das lindas músicas que compus. Ele, o maestro beija-flor.