Toda quarta e sábado eu compro frutas num pequeno mercado de bairro perto da minha casa. Na quarta-feira, geralmente, eu já saio do trabalho e passo direto lá no Quim*, dono do sacolão, que me conhece desde que eu era pequena, nos tempos que eu podia usar saia mostrando a calcinha com babadinhos de renda e isso significava só uma calcinha com babadinhos de renda.
Quarta-feira as frutas chegam logo no final da tarde e o Mercado vira uma mistura de aromas e cores. Então eu encontro quase sempre as mesmas pessoas, algumas senhoras escolhendo o maracujá, as donas-de-casa olhando as verduras e separando carinhosamente aquele pé de alface verdinho para o almoço de amanhã, um ou outro pai de família pegando uma maçã para a filha, um limão para a caipirinha. Vez ou outra a gente ouve: - Quiim! A mandioca ta sequinha? E o quiabo, ta bom? Eu acho tudo uma delícia.
A esposa do Quim fica no caixa. A balança não para: pesa tomate, pesa mexerica, pesa uva....Sempre que a gente pergunta se alguma fruta ta boa ela logo quer que a gente experimente e prontamente pega uma faca que fica uma num canto aqui, outra num canto lá e já vai descascando, não da nem pra rejeitar.
Numa dessas quartas-feiras eu estava apressada e escolhi rapidinho minhas frutas. Mas como nesse horário lá está sempre cheio, eu não podia esperar para pesar. O Quim vendo minha situação se ofereceu prontamente para levar as frutas na minha casa mais tarde. E assim foi....
Na verdade não foi, porque lá em casa não apareceu nem fruta, nem Quim, nem o menino que eu sempre vejo saindo de lá com uma bicicleta fazendo entrega.
O Mercado sempre fecha as vinte, vinte e uma horas. Na sexta-feira bem de noite fui lá, porque, com certeza, esqueceram da minha encomenda. O Quim estava lá sozinho e ele é do tipo que adora puxar um papo, render uma conversa, e eu já gosto também, então ficamos os dois lá batendo papo e escolhe uma coisinha aqui, outra lá, pesa, ensacola, meia dúzia de ovos: -Ô menina, tem do vermelho. – A não, Quim, eu gosto é do branco mesmo.
- Éee (coçando a cabeça), essa hora é hora das polícia passá aqui. É um tal de filá as coisa aqui no mercadin. Num guento esses guarda!, reclama.
- Ué, eles vêem aqui e pegam as coisas assim, sem mais nem menos?
- É, minha filha. Fazê o quê?
Nem cinco minutos, chega o policial. Farda engomada e cara lavada: - Ô Quim, arruma um copo d’água aí!
Sai correndo o pobre homem, vai debaixo de uma das bancas, tira um litro de cachaça transparente, enche um copo até no gargalo, corre lá atrás do balcão, pega um galão térmico de cinco litros de água e o policial já estava lá fora com aquela cara de político cumprimentado as velhinhas voltando da igreja.
O Quim estende o copo transbordando de cachaça para o guarda que, em serviço (não sei de quem) bebe numa tragada só e ainda pede mais (só que aí era água mesmo, do galão que o Quim ficou segurando pra despistar o pessoal da rua).
Viatura ligada e lá vai embora o carro da polícia que faz a ronda para nossa segurança.
- É Quim, eu vi, viu? Não segurei.
- Pois é minina, é que eu não tenho carteira de moto, sabe?
Da minha noite eu sei falar: fui dormir porque tinha curso no outro dia cedinho. Já a do guarda....não sei....mas deve ter sido mais animada que a minha.
* É claro que o apelido do Quim não é Quim, né gente...
7 comentários:
POLLYANE, É O QUINCAS BERROD'AGUA...
isso tinha que tar escrito era nun jornal!
Pois é pessoal. Em outros tempos, eu até anotava a placa da viatura, ligava para o disque-denúncia, mas acho que já desisti disso...(deu até vergonha admitir).
Você é muito preciosa nos detalhes...
Ternura sempre!
Vergonha hein? Segurança nada segura! Putz.
Sensacional!
Ops! Esse comentário não era para este texto. rs Vou levá-lo ao seu lugar de direito. rs
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