Eu gosto do cair da tarde. Parece-me que as cores ficam pardas e as pessoas um pouco mais calmas.
Berço da noite, as árvores se enfeitam para liberarem vida e as senhoras regam suas hortas rechedas de plantas e ervas.
O cair da tarde tem cheiro de café recém-passado e sensação de pause numa cena bem bonita daquele filme preferido.
Na verdade, a tarde não cai. Ela levanta-se para ocupar, a lua, sua cadeira espacial.
Tenho a imprensão que os pássaros, nessa hora, querem voltar aos ninhos.
No cair da tarde não sabemos se acendemos ou deixamos a luz apagada. É um ver não vendo danado.
As fadas e salamandras nos visitam e espalham por todos os cantos pozinhos iluminados que nos fazem compreender o abstrato das horas seguintes. Caso contrário, ficaríamos perdidos na escuridão da noite, no vazio que, às vezes, ela traz.
No cair da tarde os bebês ficam mais cheirosos, assim, como um passe de mágica e as mães, zelosas, com seus seios fartos, os amamentam numa eterna troca de olhinhos, olhares, dedinhos e biquinhos...
Veem-se mais pessoas nas janelas a olhar...o cair da tarde.
O sol despede-se silencioso em sua veste de ouro para repousar para nós e iluminar outras vidas, em horizontes distantes...
As beatas se perfumam para, em grupo, visitarem a sacristia, numa procissão que não termina nunca.
No cair da tarde perdemos um pouco a lucidez e, talvez, com a mão no queixo sobre a mesa, nos damos um tempo pra pensar no sonho da noite passada e no bolo de fubá de nossa avó.
Um comentário:
Uma dose de paz.
Gostei muito.
Postar um comentário