Pensações

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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Encanto com o que não era pra encantar

Todos nós que cursamos a faculdade, tivemos aula de filosofia, sociologia e antropologia (e não estávamos de ressaca nessas aulas), sabemos que a mídia vende produtos e pessoas, influencia a todos, coloca nos bares e esquinas os assuntos que ela quer que lá estejam, formata a personalidade das criancinhas, faz a gente dançar na boquinha da garrafa, incentiva-nos a comprar o que não precisamos e achar o que não achamos.
Eu escreveria um livro desdobrando esse assunto, mas acho que todos já entenderam o que quero dizer com as frases acima.
Eu sei disso tudo. Uma das principais funções (se não a principal) dos veículos de comunicação é persuadir. Não podemos negar que eles têm sua função na sociedade e além de nos fazer um tanto de mau (colocando na nossa cabeça que precisamos de silicone, um carro potente, um amor sem defeitos), nos fazem, também, um tanto de bem (nos informa, alerta, inspira, denuncia etc).
Onde quero chegar com isso tudo? É que sei das dicotomias dos jornais, tv's, revistas, web, rádio e todos os outros. Mas nesse momento estou encantada e uma pessoa encantada tem todos os direitos do mundo, inclusive o de ser jornalista e chorar com um comercial de tv.
O dia das mães está se aproximando. Há publicidades por toda parte. Em cada outdoor, em cada spot de rádio, em cada loja percebemos como nossa publicidade tem ficado cada vez mais sensível. Como nossos publicitários estão virando artistas de verdade, sem tirar nem pôr.
-Um menininho dá a sua mãe uma caixa de lenços. O irmão, logo em seguida, dá um perfume que agrada muito à mãe. O mais velho (que deu o perfume) se sente orgulhoso de ter dado o presente que a mãe mais gostou. Só que ela gostou tanto que ela chora...então o irmão mais novo estende um lenço, que foi o presente que ele quis dar e não era tão glamouroso quanto o perfume, para que a mãe seque as lágrimas.
Eu fiquei sem palavras ao ver esse comercial. E sempre que o vejo, tenho vontade de chorar. É muita delicadeza, muita sutileza...
Outro que posso citar é um comercial da empresa de telefonia Claro. Neste vídeo as pessoas vão se comunicando numa rede sem fim de possibilidades. Falando ao celular e mandando uma foto, passando um vídeo de telefone para telefone, conversando a distâncias enormes e vendo umas às outras, mostrando que não há mais motivos para se perder qualquer momento que seja. Tirando a música que, quando se escuta, dá vonta de sair dançando junto à banda de criancinhas que "tocam" com muita empolgação instrumentos de brinquedo.
Gente! Esses comerciais foram feitos para vender, para comprarmos um perfume sendo que já temos três, para adquirirmos um celular sendo que o último que temos tem apenas dois meses, para fazer girar a roda do capitalismo. Mas não podemos negar. É arte! É arte que emociona, que mexe com os sentidos, que faz chorar e dar gargalhadas. É arte que arrepia, que nos faz pensar, que nos mobiliza.
Acredito que estejam nascendo novas formas de arte porque o mundo já não é mais o mesmo de Picasso, de Bethoven, de Chaplin, de Shakespeare e nem mesmo de Tom e Vinícius. O mundo já não é mais o mesmo de Cazuza!
Refletindo sobre isso, proponho que comecemos a nos preparar para o novo e mais ainda, praticar o bom senso na hora de consumir, porque nossos publicitários estão merecendo um Nobel.

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