Eu não posso achar normal, mesmo se tratando da minha profissão, que nós, jornalistas, vivamos, na maioria das vezes, das desgraças alheias.
Esta semana um pitbull arrancou a cabeça de um bebê de três meses aqui, perto de mim, no bairro Cariru. No outro dia, os jornais escancaravam as fotos sujas de sangue...cheiravam a sangue. Quanto a isso, ainda engoli engasgada. O bebê já estava morto, ele não viu as fotos serem feitas. O que me deixou escandalizada e enojada foram as fotos do momento em que a jovem mãe chegava à casa, com a notícia recém descoberta. Ela estava desesperada pelo que vi na primeira página. Amparada por amigos, era um pedaço de dor humana. Um zumbi acinzentado de dor. Colegas! Essa mulher não precisava ser fotografada naquele momento! A carniça ainda estava viva. É como se tirassem as calças de alguém em plena avenida Brasil.
Nós, imprensa, somos urubus. Nos alimentamos da dor com os caninos afiados. E o pior é que eu, companheiro de classe, infelizmente faria a mesma coisa. Estou começando minha carreira de jornalista. Não teria escolha. Compreendo nossas necessidades.
Mas não posso deixar de pensar que somos animais. Faria a foto. Tomaria meu banho daquele dia tentando limpar minha sujeira junto às lágrimas da castração. Tenho vergonha.
O povo quer ver? Quer. Vende-se mais jornais? Vende-se. Mas, a responsabilidade é nossa! Nós que somos (mal) pagos para pensar o que vai ser notícia amanhã e de que forma esta notícia vai chegar às casas na hora do café matinal.
Nós é que estudamos para formar opiniões e não abastecer a sociedade de sensacionalismo terrorista à custa das trajédias pessoais.
Nós que deveríamos falar de flores e crianças na escola, denunciar os políticos que esbanjam às custas do dinheiro público, colocamos na primeira página uma criança no saco preto e uma mãe despedaçada.
2 comentários:
E isso ai Polly, não precisa nem comentários vc já espressou a indignação de milhares de pessoas sensatas que leram os jornais no dia seguinte.
Aliás vai aqui a minha sugestão, pq não divulgarem prevenção de acidentes, estive conversando com uma doutorada no assunto, e ela me disse que qdo a procuraram várias vezes para dar entrevista sobre o surto de meningite que rondava Ipatinga na época, ela deixou bem claro para todos os jornalistas a quem ela deu entrevistas que o que ela estuda é sobre prevenção de acidentes e que gostaria muito de divulgar este tipo de notícia, pois assim evitaríamos mortes estúpidas como esta. Sabe quantos jornalistas a procuraram? Não precisa nem responder né! Pq a nossa cultura ainda é bastante pobre trabalhamos em cima das desgraças alheias.
É uma pena amiga...mais que pena, é uma vergonha...mas disso também se vive...mas ainda bem que existe pessoas que ainda ficam indignadas, uma pena mesmo, vai ser quando todo mundo achar isso normal...
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