Pensações

Pensações

segunda-feira, 11 de junho de 2007

A água nossa de cada dia

É nosso! Com essa frase a humanidade vem percorrendo o caminho da domesticação de tudo que a natureza lhe deu. Domesticamos a terra, os animais, as florestas e a água. Água essa que nos rega todos os dias desde a hora que acordamos ao momento de ir para cama. Como um bem próprio, as cidades e seus habitantes colocaram o líquido natural em canos e caixas. Medimos em centímetros cúbicos para estarmos certos de que é nosso de verdade e até pagamos por isso. O pior é que o preço das contas mensais não se compara ao preço que vamos pagar ao planeta. Uma dívida que começa a ser calculada agora.
Povos ancestrais, como os indígenas, os quais julgamos desprovidos de desenvolvimento pagarão esse preço também, mas com um desconto: a consciência limpa e límpida (assim como um lago ao qual o ser humano nunca teve acesso).
Ailton Krenak, uma das maiores lideranças indígenas de nossos tempos, em um momento de reflexão alertou: “Nós somos água, reagimos como água”. De certo poucos vão entender. Reagir como água?
Sim, a água é o elemento mais sutil ao qual temos acesso. E como tudo que é sutil é o primeiro a nos alertar que estamos chegando no limite. “A Terra tem um limite”, alertou Krenak. Não para ela que já passou por diversas eras e catástrofes e se mantém. Limite para a raça humana, que a consumiu como um bem na vitrine. O problema é que os bens da vitrine saem de moda. E se a água resolver sair de moda? E se não a encontrarmos mais em nenhuma gôndola?
As culturas ancestrais, povos que viveram em diferentes lugares do planeta azul nunca observaram a natureza como partes. Existe uma experiência de integração, pois eles se sentiam – e ainda existem remanescentes dessas culturas – parte do meio. A natureza não é aquela que apontamos aos nossos filhos quando vamos ao parque ou vemos o mar. A natureza somos nós. E é essa visão cósmica que nos faltou e que fará faltar.

Religiões
A salada religiosa brasileira é um bom exemplo de que não podemos domesticar o que é sagrado. Nas crenças afro-brasileiras existe a presença irrevogável da água como uma entidade à qual devemos cultuar. No candomblé e Umbanda, por exemplo, a água é representada pela figura mística da mãe Iemanjá. A rainha do mar para a qual milhares de brasileiros jogam flores quando um novo ano começa. Era para termos continuado assim: jogando apenas flores.
A água benta da igreja católica e das doutrinas protestantes. A água imantrada do Kardecismo perfeitamente explicada nos dias de hoje.

Física quântica
No polêmico filme intitulado “What the bleep do we know?” (Traduzido para o português como: “O que ainda não sabemos”), que relata as mais novas descobertas da física quântica sobre o mundo, seus elementos e a energia, existe uma interessante passagem que narra a experiência com as moléculas de água em relação às palavras. Em um recipiente cheio de água natural foi colocado uma etiqueta com uma palavra negativa, como guerra, por exemplo. Em outro, com o mesmo líquido, existia a palavra amor. E assim existiam vários. Ao observar as moléculas da água que continham as palavras positivas, elas formavam flores, lindos cristais e desenhos uniformes. Em contrapartida, os recipientes com as palavras negativas, continham a água com moléculas irregulares, desarrumadas e confusas.


O que nos resta compreender é que remoer o passado não nos redimirá. Analisa-lo de forma coerente fará com que possamos refletir sobre como vamos, a partir de então, lidar com esse bem. Quais palavras vão ser escritas a partir de agora? Talvez, as moléculas e a ciência nos respondam, desde que permitamos que reste água.

Nenhum comentário: