Mas foi. Não para a reabilitação, como queria seu pai. Ela foi embora no melhor estilo de quem pode ir embora assim: vivendo num mundo paralelo, talvez não por escolha, mas sim por necessidade.
Esse mundo não são para eles, os artistas. São possuidores do direto; sim, do direito de enlouquecer, de perder as eiras e beiras. A sensibilidade vivida ao extremo desequilibra e nos faz dançar como quem pergunta "que que eu tenho a ver com isso", numa tarde de domingo ao som de seu sofrimento.
Amy foi sim uma grande artista. Sem clichês ou frases reproduzidas de algum site de notícia. Ela tinha o direito. E que se calem os cartesianos e ortodoxos, que não resmunguem os caretas. Nem todos querem andar com os cabelos aparados ou esticados por uma chapinha.
Nós, pobres mortais - atenção: pobres - temos o direito de fazer barulho em decibéis que não incomodem nossos vizinhos. Só. Só e já estamos errados em caso de qualquer desafinação. Os grandes, não. O barulho que produzem tem o direito de ultrapassar fronteiras, chegar a outros continentes, e o melhor: mergulhar em nossas almas, o lugar mais difícil de ser atingido.
Amy foi embora dessa Terra estranha, drogada de todas as maneiras. Meu Vinícius também. Ele se contentou (e não podia ser diferente) com seu wisck e o pito. Ela veio em outros tempos. Tempos de drogas sintéticas e pedras que fazem fumaça.
Alcoólatra e diplomata, drogada e irreverente. Ficam seus legados, seus timbres e batuques. Fica a música simples em prosa e melodia. Eles deixam o melhor para nós.
Aos bem penteados peço que retirem do descanso de tela os quadros de Van Gogh, ou mutilem uma orelha para merecê-lo. Ou então, calem-se diante do que não podem compreender.
Agora vá, Amy, e encontre o que nunca encontrou aqui, nessa terra de "gigantes".
Obrigada.